FERNANDA SCHIMIDT
Do UOL, em São Paulo
Diversos casos de crueldade com animais têm
repercutido na imprensa e nas redes sociais nos últimos meses – um filhote de
cachorro enterrado vivo, um yorkshire
espancado até a morte, dezenas cães
e gatos mortos e ensacados –, e o assunto voltará à tona durante o
São Paulo Fashion Week, principal evento de moda do país, que começa nesta
quinta-feira (19) na capital paulista.
Raio-X da indústria da pele
Materiais: couro (vacas, porcos, cangurus, bodes e
ovelhas), pele (castores, chinchilas, coelhos, cães, gatos, lobos, minks,
raposas, focas e ursos) e exótico (cobras, lagartos e crocodilos)
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Estima-se que 85% da pele usada na indústria da moda
venha de animais confinados
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Entre os métodos usados para abater os animais estão
sufocamento, eletrocussão, intoxicação por gás e envenenamento
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É comum a pele ser retirada com os animais ainda vivos
sem anestesia
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Produtos tóxicos são usados na transformação da pele
do animal em couro
Dados da ONG People For The Ethical Treatment of Animals (Peta) |
Coelhos e raposas produzidos com isopor reciclável farão
parte de uma intervenção comandada por artistas plásticos na entrada do evento,
no prédio da Bienal, durante o fim de semana, com o objetivo de conscientizar o
público contra o uso de peles, couro e penas em desfiles e editoriais de moda.
“Não tem nenhuma diferença [a crueldade com animais domésticos daquela para a
extração do couro]”, disse em entrevista ao UOL Adriana Pierin, ativista do Move Institute, responsável
pela ação durante o São Paulo Fashion Week há quatro temporadas. “As
pessoas muitas vezes não sabem que suas carteiras, bolsas e pulseiras são
feitas de couro. Fotógrafos, editores de moda e maquiadores acabam sendo
cúmplices desta alienação e da divulgação de peças que utilizam produto
animal”, completou.
O fato de as passarelas desta edição mostrarem as coleções
para o próximo inverno dá mais pano para a manga da discussão por uma moda
ética, já que o Brasil tem um importante fator a seu favor: o clima. “É um país
tropical. Não temos a necessidade de usar roupas de origem animal. O uso de
pele nem deveria ser um assunto sobre o qual temos de pensar”, disse a
consultora de moda Chiara Gadaleta, criadora do site Ser Sustentável com Estilo.
Chiara acredita que o ponto principal deste debate é
apresentar soluções alternativas aos produtos de origem animal. A sua preferida
são as tramas de tricô. “Temos trabalhos artesanais criativos e muito bonitos.
Sinto que no São Paulo Fashion Week estão começando a prestar mais atenção
nessas peças feitas à mão. Vi muito disso já nos desfiles do Fashion Rio e
Fashion Business”, comentou ela. Há também as versões sintéticas que imitam
couros de diferentes origens e até técnicas de serigrafia criadas para
substituir peixes ou crocodilos.
Polêmica das peles
No entanto, a ativista do Move Institute admite ter
dificuldades para encontrar algumas peças. “O problema da moda ética, às vezes,
é que ela é de mau gosto. A marca de calçados Piccadily, por exemplo, faz tudo
sem couro, mas os sapatos são feios na minha opinião”, disse. A confecção de
sapatos em couro vegetal é delicada e mais trabalhosa. “Os materiais sintéticos
são mais finos e menos elásticos. Como a maioria das técnicas industriais não
são apropriadas para a produção sem couro, a maioria das etapas da produção de
um sapato acaba sendo feita manualmente”, explica o site da estilista
britânica Stella McCartney, principal nome da moda sustentável no mundo.
Os custos, consequentemente, são elevados em comparação às
linhas de produção industrial. “Os preços ainda são mais altos, porque tem
pouca demanda. Quando a demanda aumentar, logicamente o preço baixa”, afirmou a
consultora de moda Chiara.
Certificados
Uma questão polêmica mesmo entre os defensores da moda livre
de crueldade é a certificação de couros e peles. Marcas como a carioca Osklen,
por meio do Instituto E, promovem o uso de materiais como o couro de tilápia ou
de dourado como alternativas ecológicas ao produto bovino.
Seja um fashionista consciente
Procure saber de onde vieram as peças que vai comprar
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Evite comprar produtos de origem animal
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Use alternativas como as peças artesanais de tricô e
crochê
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Dê preferência às roupas produzidas no Brasil
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Cobre suas marcas favoritas por opções ecológicas e
incentive as que já aderiram à moda
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Chiara, por exemplo, apóia a iniciativa. “Eles são mais
ecológicos, porque a indústria pesqueira é menos poluente do que as outras de
couro”, disse. Já Adriana é mais radical: “sou contra qualquer tipo. Os
únicos produtos de origem animal que são obtidos sem sofrimento são leite e
ovos orgânicos, porque os bichos ficam soltos no pasto”, afirmou ela, que é
vegan, ou seja, não come alimentos que tenham carne, ovos, leite ou mel.
A ativista é a favor de outro tipo de certificados. “Queremos
que o governo fiscalize e certifique esses termos ‘eco’. A moda teria de ter
selos para que quem compra saiba de onde veio aquele produto”, falou. Adriana
acredita que a superexposição de palavras como “eco”, “bio” e “sustentável”
criou uma leva de “eco-oportunistas” que se utilizam destes termos para fazer
propaganda de produtos que nem sempre são ecológicos de fato.
Com este princípio, ambas concordam. “É importante tomar
cuidado, pensar na peça e em quem está por trás dela, e pedir mais
transparência das empresas. Só temos a ganhar com isso”, comentou Chiara.
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